Diagnóstico etnográfico

A Escola Onélia Campello mantém uma postura de ensino sem discriminação ou preconceito, com preocupação no cuidado e acompanhamento do corpo discente e no compromisso raro com a comunidade que a acolhe. A alimentação dos alunos é tratada da melhor forma, segundo a verba destinada, que é curta e leva à necessidade de alternativas com criatividade. O esporte, apesar de não ser tão incentivado, encontra adeptos entre os estudantes, que se reúnem para usar o ginásio espontaneamente. Além da educação física, existe um grupo de dançarinos na escola, que se ocupa em ensaiar para as apresentações que eventualmente acontecem. Ao longo do período letivo, a escola planeja atividades extraclasse e interdisciplinares. Durante este ano, organizou dois projetos de leitura, um com foco em autores nordestinos e, em seguida, outro, contemplando apenas os alagoanos, além de um projeto de reconhecimento da comunidade, a partir de um estudo da memória do bairro, inclusive há um curta disponibilizado no youtube contando a história da escola. Já a realização de excursões encontra dificuldades na obtenção de transporte, por conta da burocracia com a Secretaria da Educação. Quando acontecem, as excursões são realizadas, geralmente, para lugares próximos (por exemplo, a UFAL). Uma visita frequente à instituição é a do Ministério Público, que atua de forma a conscientizar os alunos sobre questões como bullying, indisciplina, violência contra a mulher, drogas, preconceito etc. Já o Conselho Tutelar, segundo a coordenação, se mostra um tanto quanto ausente no relacionamento com a escola.

O clima entre os profissionais é de descontração e carinho, especialmente na sala dos professores. Segundo eles, há uma boa unidade com o corpo de funcionários em relação às decisões tomadas por diretores e coordenadores. Mas, quando se trata dos pais dos alunos, apontam uma ausência generalizada no trato com o currículo pedagógico dos filhos. A maioria dos funcionários guarda um gosto nítido pelo trabalho, sobretudo o corpo docente, que, em sua maioria, passou por muitas situações difíceis e degradantes na profissão e encontraram, ali, um trabalho no qual se sentem seguros. O professor de matemática relatou seus desafios quanto ao nível de conhecimento dos alunos do ensino médio, pois poucos mostram interesse em aprender. Compartilhou de forma profunda a esperança que possui na educação pública porque ele é fruto dela. Além do relato da professora de história que demonstra satisfação em fazer parte dessa equipe.

No bairro do Santos Dumont e, consequentemente, dentro da escola, a questão das drogas é uma realidade, e, apesar de não parecer tão marcante, merece políticas para resolução. Como medida de segurança à violência e à criminalidade, o colégio procura manter rigor sobre o fardamento dos estudantes, para evitar que não-alunos adentrem o espaço. Além disso, o batalhão escolar age nos entornos com certa constância. A Onélia Campello é a única escola da comunidade que oferece turmas de Ensino Fundamental II. Sendo assim, o colégio está superlotado, e isso traz uma dificuldade de administrar os estudantes, o que fomenta um trabalho exaustivo entre os profissionais. Por outro lado, negar alunos seria se eximir da responsabilidade com a comunidade, que foi o que deu origem à escola. O colégio tem uma relação boa com igrejas, grupos de esportistas, ONG's e a associação de moradores do bairro, que usufruem do seu espaço em troca de algum serviço em prol da instituição. O espaço serve de local de votação e sedia eventos comunitários organizados ocasionalmente pelos moradores. A direção não mantém relações diretas com políticos locais e preza pelo cuidado ao oportunismo alheio, que já se fez presente em algumas situações.
O terreno da escola é dividido com a associação dos moradores. Há lanchonetes, mercadinhos e casas que ficam ao redor dela. Sua calçada é cheia de irregularidades e lixo.

A escola comporta 1.373 estudantes todos os dias e algo em torno de 50 funcionários. Dentre eles, há monitores para todas as matérias. Existe a carência de um professor de educação física, que precisou pedir dispensa por motivos pessoais por volta de um mês, o que deixa quatro turmas sem aulas da área. Falta, também, um profissional de limpeza, que está ausente devido a uma licença médica. Isso resulta em apenas um funcionário dando conta da limpeza de um espaço enorme. Na secretaria, há pessoas suficientes trabalhando, mas sem formação específica para a área. Na vigilância, existe uma pessoa por período e, noite adentro, o ambiente é protegido por um sistema eletrônico de alarmes. Algumas faltas de determinados funcionários dificultam o resultado final do trabalho, mas existe, também, muita proatividade.

Infraestrutura:

As salas de aula da escola têm um bom espaço, mas que, algumas vezes, não é suficiente para comportar todos os estudantes, pois existem turmas com mais de 50 pessoas. Em geral, as lousas estão em bom estado, mas há as que mereçam uma troca. As janelas são grandes e dão as condições para um ambiente bem arejado, mas muitas estão quebradas ou apresentam avarias. Existe um grande problema em relação às carteiras: além de algumas danificadas, não estão em número suficiente para atender a todos os alunos, o que transforma o período entre-aulas num momento caótico, no qual o trânsito de cadeiras pelos corredores, de uma sala a outra, é comum e atrapalha o aprendizado. A disponibilidade de assentos em salas ao lado fica sujeita à presença de alguma turma em atividades extraclasse, geralmente no ginásio.

Os espaços externos de convivência são muito amplos e têm um bom visual, mas pecam, em especial, por um motivo: assentos. Existem bancos e não são exatamente poucos, mas poderiam ser em maior número e melhores distribuídos, de forma a incentivar a interação entre os estudantes e mantê-los protegidos do sol durante o dia. É possível perceber a existência de uma horta, fruto de um projeto antigo da escola, mas que não é cuidada e está desaparecendo. Em poucas partes, pelos cantos, podem ser encontrados materiais escolares (cadeiras, mesas, bebedouros etc.) que quebraram e foram deixados ali. A iluminação é boa e os espaços não sofrem com muitas marcas do tempo, com exceção de uma infiltração que se inicia no primeiro andar da escola, se estendendo por uma das escadas, que precisou ser interditada por esse motivo. Essa infiltração deixa partes do piso constantemente molhadas, tanto na área de cima, quanto no térreo da instituição. As escadas que funcionam têm corrimão e não apresentam riscos aos presentes, mas, de uma forma geral, o lugar peca pela falta de acessibilidade.

Todos os banheiros destinados a funcionários têm estrutura e limpeza suficiente para atendê-los, mas os banheiros dos alunos são totalmente precários. Os sanitários masculinos e femininos do primeiro andar não são utilizados, por escolha da instituição, e os do térreo estão sempre com o chão alagado, sujos, danificados, pichados, fedem e não têm porta na entrada, ou mesmo, muitas vezes, nas cabines.

As salas da coordenação, direção e secretaria são espaçosas e atendem bem às necessidades dos funcionários que a utilizam. Já a sala dos professores, não tem uma estrutura ruim, mas precisa de algumas melhorias. Ela é equipada com um ventilador fixo na parede e filtro de água gelada, cujo custo é dividido entre os docentes. Os vários ármarios são insuficientes para os profissionais e os assentos comportam todos ao mesmo tempo, mas não da maneira mais confortável.

A cozinha e o refeitório dos alunos estão bem preservados e limpos. O refeitório comporta com tranquilidade todos os estudantes e apresenta uma boa estrutura. A cozinha é equipada com um fogão industrial de seis bocas, dois freezers industriais e duas geladeiras pequenas. Há duas dispensas grandes: uma para os alimentos, outra para os utensílios, que apresentam uma boa variedade. O cumprimento do cardápio proposto pela Secretaria de Educação esbarra na insuficiência da verba destinada à instituição. Portanto, algumas vezes, o prato do dia se torna bolacha e suco de alguma fruta. Ao lado da cozinha, existe ainda uma cantina, num espaço alugado, à qual os estudantes podem recorrer caso queiram e tenham condições de comprar algo para comer.

O auditório é espaçoso e equipado com bons assentos, datashow, tela de projeção retrátil, um modesto acervo de DVD's e um ar condicionado que não funciona no auge de sua potência. A tela, no entanto, poderia ser maior para um melhor alcance daqueles que ficam ao fundo do ambiente.

O ginásio é grande, bonito, tem uma boa estrutura e é bem conservado. É bem arejado e iluminado, e possui cestas de basquete e rede de vôlei.

A biblioteca funciona durante os três momentos do dia. De manhã, das 7h30 às 11h30, o período de maior procura. À tarde, das 13h30 às 17h. Pela noite, das 19h às 21h. Lá, é possível encontrar um acervo reduzido de livros, no qual prevalecem os didáticos. Com exceção destes últimos, não há renovação no arquivo. Dentre os estilos, encontra-se poesia, literatura infantil, contos, romance, cordel etc. O ensino médio, de forma geral, tem pouca incidência na locação, e, quanto mais jovens forem os alunos, mais isso muda de figura. Os sextos, sétimos e oitavos anos são os principais frequentadores do local e parecem ter muito gosto por poesia. O registro dos livros existentes foi feito manualmente, pois falta um computador para dar conta do trabalho. Inclusive, neste serviço, os alunos auxiliaram, por vontade própria, os bibliotecários. Estes que são, na verdade, professores que estão fora da sala de aula e precisaram ser realocados.

Alguns dos títulos mais locados:


O laboratório de ciências é super equipado com os utensílios necessários às atividades. O espaço é muito bom e os equipamentos são impecáveis. Já o laboratório de informática, apesar de ter ar condicionado e apresentar uma estrutura excelente, tem poucos computadores - menos, ainda, que funcionem. Isso impossibilita o uso pelos estudantes e o espaço está constantemente trancado. Segundo a coordenação, a escola possuía 20 computadores, mas recebeu uma ordem do vice-governador para que fossem recolhidos e levados a uma instituição de ensino pública do município de Arapiraca. Por esse motivo, também, o acesso à internet foi retirado e limitado à secretaria.

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